Minha briga com o Aedes aegypti não é de hoje. Em 2001, fui uma das 3.592 pessoas infectadas pelo mosquito no Guarujá. Já em 2006, ano de outra epidemia, mais uma vez estive entre os 3.129 doentes da Cidade. Em ambas as ocasiões tive que tomar bolsas de soro para me recuperar. E eis que agora, quando o Município caminha para a sua quinta epidemia desde 1997, quando os primeiros casos começaram a surgir, estou novamente às voltas com a dengue. E foi com os sintomas típicos da doença, como febre, enjoo e dor no corpo, que me encaminhei exatamente à 1 hora da manhã de ontem à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Rodoviária. Apesar de ter plano de saúde, este é o local mais próximo de minha casa. Estava então com 39,5 graus de febre e não conseguia dormir. Já tinha tomado tylenol, o remédio apropriado para a doença, às 18 horas, mas a medicação causou alergia. Foi justamente por não saber se poderia continuar tomando o remédio que decidi me encaminhar em plena madrugada ao posto público. Ao chegar ao local, me deparei com uma sala bem menos cheia do que nos dias anteriores. Havia, contando de forma geral, pelo menos umas 50 pessoas, entre as que esperavam atendimento clínico, pediátrico, odontológico e medicação. Reparei que na recepção havia uma pequena lousa com os nomes dos médicos de plantão. Me animei ao ver que eram pelo menos sete, sendo quatro clínicos. Em cinco minutos fui atendida pelo recepcionista, que pegou meu RG e, depois de digitar os dados básicos em um computador, imprimiu a ficha e me mandou aguardar atrás da fila no saguão de entrada. Fiz o que ele me orientou, só que logo fui repreendida por outros pacientes. "A fila é lá atrás, viu?". Quando olhei, vi que havia mais pelo menos sete pessoas sentadas nas cadeiras do saguão. "Eles nem dizem onde é a fila direito, não é?", reclamou um homem comigo. Era 1h10 e havia 17 pessoas na minha frente. Achei que o atendimento seria rápido, mas logo desanimei ao ver que apenas uma médica atendia aos pacientes que esperavam para passar pelo clínico. A maioria estava com sintomas típicos de dengue. Um rapaz de 16 anos que esperava logo atrás de mim, Carlos Brito. Ele já tinha feito o exame e estava ali para saber se tinha realmente com a doença. Já a senhora à minha frente teve que sair às pressas, com ânsia de vômito. Conforme a fila andava, as pessoas tinham que ir mudando de lugar, como numa dança das cadeiras. Sem qualquer senha, o controle era feito pelos próprios pacientes. À 1h35, teve início uma pequena discussão entre um homem bêbado e um outro. Ambos esperavam atendimento. Os guardas logo apareceram para apaziguar. O que estava alcoolizado reclamava da demora. Impaciente, ele tinha dor de dente. A solução encontrada pelos guardas foi passálo na frente. Era 1h49. Catorze minutos depois finalmente entrei na sala da médica. Disse os sintomas básicos e ela diagnosticou dengue. Atenciosa, respondeu todas as minhas dúvidas, mas não chegou a fazer qualquer tipo de exame, nem sequer a medir a temperatura. Saí de lá com a receita de tylenol,únicaalternativa,mesmo com a alergia inicial. Também tive certeza de que há algo errado quando se espera 1 horaparapassarporummédicoemplenamadrugada,justamente quando há um surto de denguenaCidade. O exame para confirmar a doença só pode ser feito três dias após o aparecimento dos sintomas, mas acho que não valerá a pena enfrentar essa saga novamente para confirmar o que eu já sei. O pior é que as autoridades vão ter um número a menos nas estatísticas.
SIMONE QUEIRÓS É REPÓRTER DA SUCURSAL DE GUARUJÁ