quinta-feira, 29 de julho de 2010

ATROPELAMENTOS IGUAIS AO DO FILHO DA CISSA GUIMARÃES ACONTECEM TODOS OS DIAS

*Dr. Welinton Andrade Silva

Desde a criança e adolescência, quando ainda morava na região da Prainha em Vicente de Carvalho, gosto de emitir minhas opiniões, sejam elas agradáveis ou não aos que lêem, ouvem ou assistem.
Numa ocasião, quando eu ainda era frentista de posto de gasolina, aos 15 anos, emiti minha opinião sobre um assunto que desagradou a um comerciante que me disse “quem é você para ter opinião”. De pronto respondi que era um jovem com direito a opinar sobre tudo.
Veja como são as coisas e como é o destino. Hoje, há mais de vinte anos, vivo de escrever e falar minha opinião, sempre crítica construtiva, sobre os mais diversos assuntos locais, regionais, estaduais e nacionais.
A presente introdução era necessária, pois mais uma vez colocarei de forma clara minha opinião sobre a questão do atropelamento do filho da atriz da Rede Globo, Cissa Guimarães, Rafael Mascarenhas.
Primeiro, é necessário deixar claro que adoro a Cissa Guimarães e que o fato é trágico e lamentável. Entretanto, a mídia, à procura de um culpado para crucificar, quer demonizar os policiais que teriam aceitado suborno para que o motorista retirasse o carro do local do atropelamento.
Analisemos os fatos. O jovem Rafael foi atropelado quando andava de skate num túnel, na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro.
O atropelamento seria o resultado de um racha entre dois automóveis. Após o atropelamento, o motorista não socorreu a vítima (omissão de socorro). O jovem motorista chama os pais, que teriam dado propina para policiais (corrupção ativa e passiva).
O que quero transmitir é que um motorista atropela um jovem rico, filho de pais famosos, e quem parece ter cometido o ato foram os policiais.
Se verdadeira a questão da propina, os policiais estão errados? Sim e devem ser punidos na forma da lei. Entretanto, pai e filho também cometeram o mesmo crime, sendo que o filho foi quem atropelou por culpa ou intenção.
A corda continua arrebentando do lado mais fraco. O que a mídia como um todo deveria estar questionando no caso é se o motorista estava bêbado, drogado e se realmente estava em alta velocidade. O tema central da tragédia e da investigação é esse. E não os policiais.
Entretanto, como a família da vítima é influente e a do motorista parece possuir posses suficientes para contratar um bom advogado, o foco foi alterado.
Mas, na verdade, o que quero dizer mesmo é que conheço várias famílias que perderam filhos em atropelamentos no Guarujá. Só para citar dois deles, o jovem atropelado pelo ônibus da Translitoral, na Enseada, e outro por um caminhão na Rua do Adubo.
O que se ouve falar sobre esses dois casos igualmente trágicos e lamentáveis? Absolutamente nada. Afinal, eram filhos de pobres. E defunto pobre, pelo atual sistema, merece, quando muito, uma notinha na página policial do jornal local. Isso, se o jornal não tiver “anúncio” da empresa.
É contra isso que sempre escrevi e continuarei escrevendo sempre. Essa desigualdade que ergue um muro de exclusão instransponível aos menos favorecidos.
Afinal, qual a diferença entre a dor da mãe Cissa Guimarães e a das mães das duas crianças atropeladas e mortas em nossa cidade? Nenhuma. Entretanto, a igualdade termina ai.
*O advogado Welinton Andrade Silva é presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB, coordenador do PSDC na Macro Região da Baixada Santista, membro titular dos diretórios estadual e nacional do partido e ex-secretário da Cultura
welintonandrade@hotmail.com –